MARISA E NEWTON ESTÃO
NEWTON — O que mais pode ter no meu musical? O importante é o tema: as mutações na sociedade... a guerra que tá tomando conta de tudo... uma guerra inútil... em que morrem todos os dias policiais de um lado... mutantes de outro... E vítimas inocentes... Pra que essas mortes, essa violência, essa guerra? Em nome de quê? Esta guerra tem que parar!
MARISA — A guerra sempre é estúpida... Odeio todo tipo de guerra. Guerra é uma coisa nojenta
NEWTON — É claro que no caso de uma invasão extraterrestre do nosso planeta... a gente tem que lutar...
MARISA — É... se o nosso país for invadido... se a nossa própria casa for invadida... eu acho que a gente tem que se defender...
NEWTON — Neste momento até um pacifista como eu... reconhece a necessidade da luta!
MARISA — Você é tão inteligente, Newton!
A CAMPAINHA TOCA.
MARISA — Deve ser a Simone! Ela disse que tava vindo pra cá.
NEWTON — Ela não tem chave?
MARISA — Tem ué!
NEWTON — Cuidado! Pode ser um mutante do mal!
MARISA — Deixa eu ver se é a Simone...
NEWTON — É, Marisa, olha sim... olha que hoje em dia ninguém pode mais sair abrindo a porta sem ver quem é... do jeito que as coisas tão...
MARISA — Tomara que não seja nenhum mutante nojento querendo arrombar a porta novamente! Cruz credo! Deus é Pai!
NEWTON — Abre com cuidado!
MARISA OLHA PELO OLHO MÁGICO.
MARISA — É a Simone sim!
MARISA ABRE A PORTA. OBS.: A CHAVE JÁ ESTÁ NA FECHADURA. ESTÃO SIMONE E BATISTA
MARISA —Entra, minha amiga! Aliás, a casa é sua!
SIMONE — Oi, Marisa, tudo bem? Não tava conseguindo abrir a porta...
MARISA — Ai querida, desculpe... É que a minha chave tava virada aqui por dentro...
SIMONE E BATISTA ENTRAM E MARISA FECHA A PORTA.
SIMONE — Como vai, Newton?
NEWTON — Tudo bem, dona Pequenina... um pouco preocupado com a sua situação...
MARISA — Me conte, Simone, o que deu na cabeça da tua neta, pra te expulsar da mansão?
BATISTA — Ô loco, meu! Ela foi impiedosa com a própria avó! É o fim da picada! A Maria que todos diziam ser um doce de menina... de repente azedou... parece que a bondade dela tinha prazo de validade, manja?
SIMONE — Estou muito triste com minha neta... triste e decepcionada!
NEWTON — Mas como é que pode uma coisa dessas?
MARISA —Tô bege, menina!
CORTA PARA
VEJA MAIS UMA CENA QUE VAI AO AR HOJE (QUARTA) ABAIXO:
CONT. DA CENA 19 DO CAP. ANTERIOR. SAMIRA E GÓR FELIZES. AGORA ESTÃO APENAS AS DUAS NA MANSÃO. ELAS EXPLORAM O CENÁRIO COM DESLUMBRAMENTO.
GÓR — Você tem toda razão. Samira. Essa mansão combina muito mais com você do que com a sua irmã boazinha. Essas escadarias, essa suntuosidade, esse glamour, o bosque lá fora, a piscina... Tudo isso tem muito mais a ver com seus longos cabelos negros, do que com os cachinhos dourados da Maria, com aquele look de anjinho do bem...
SAMIRA — (DÁ UMA RISADA) Como pode a minha irmã ser tão insossa, não é Gór? Você já viu uma garota mais sem graça do que a Maria Mayer?
GÓR — A Maria tem cara de pobre! Você não, Samira, tem ares de garota rica, mimada e poderosa. Tem de sobra uma coisa que falta na Maria: glamour!
SAMIRA — Glamour? Adorei isso, Gór. Sempre gostei muito dessa palavra. Glamour! Você acha mesmo que eu tenho glamour?
GÓR — Acho sim. Você combina com a mansão, com o papel de herdeira da Progênese e com os milhões da fortuna que agora vai ser toda sua...
SAMIRA — Quando vivia acorrentada no laboratório da Juli eu sonhava muito com tudo o que via na TV. Sonhava um dia morar numa casa grande, com jardim, piscina. Não houve um dia da minha vida que eu não tenha pensado nisso.
GÓR — Pois é, meu bem, cuidado com o que você sonha, pois seus sonhos podem se tornar realidade.
SAMIRA — Desde que cheguei a São Paulo não tenho parado de pensar nas coisas que eu sonhava quando estava confinada naquela ilha. Tudo agora parece ter se tornado real.
GÓR — É assim que funciona o universo. Este é o segredo... Nossos pensamentos, nossas vontades atraem os caminhos que vamos percorrer...
SAMIRA — Os caminhos das nossas vontades, dos nossos desejos mais profundos... os chamados caminhos do coração!
GÓR — Talvez você tenha pensado tanto nisso, no dia que ia poder viver
SAMIRA — Sim, mas não basta pensar e desejar... É preciso agir... Eu, por exemplo, tive que me aliar a Júlia, que virou Juli... uma pessoa que me tirou da minha mãe... me criou em cativeiro... me implantou um chip de obediência... e eu resolvi não me revoltar, obedecer, para poder vir pra cá...
GÓR — Entendo perfeitamente o seu sentimento, Samira...
SAMIRA — Mas fico pensando... Como teria sido a minha vida se não fosse a Juli e suas experiências científicas? Qual teria sido o meu destino se não fossem os reptilianos? Teria tido uma vida tão diferente... Teria crescido nesta casa com meu pai e minha mãe! Mesmo tendo que conviver com a minha irmã chatinha, insuportável, sei que teria sido uma vida bem mais feliz. Foi horrível passar a infância e todo o começo da juventude, na Concentração, no laboratório da Júlia...
GÓR — Não foi fácil...
SAMIRA — Pensa só... Teria passado minha infância brincando com meus pais e minha irmã nos jardins lá fora... Teria estudado em ótimos colégios... Teria começado a namorar na minha adolescência... Seria uma outra vida.
GÓR — Você, Samira, pelo menos sabe quem são os seus pais. Pode olhar uma foto deles. Pode sonhar com o passado que poderia ter tido. Pois eu não tenho nada disso. Não tenho a menor idéia de quem são meus pais. Queria saber quem foram eles. Queria saber, pelo menos, quem é a minha mãe. Onde ela está? Será que está viva? O que aconteceu com ela?
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