Existem muitas mulheres que se encaixam nesses perfis. Acho polêmico até um certo ponto. Hoje em dia, assuntos como esse são tratados com uma maior naturalidade. Várias pessoas me abordaram para falar que já passaram por algum tipo de situação semelhante. Algumas me contaram que nutrem uma paixão platônica por pessoas comprometidas, outras já se envolveram. Em relação a homossexualidade, eu e o Tiago tentamos tratar o assunto com liberdade. A Estela é uma personagem bem resolvida com as escolhas. E quanto mais esclarecida é a pessoa, mais tranquilamente esse tabu é desmistificado.
Quando a gente começa pela Estela, operacionalmente é mais fácil. É um personagem como menos caracterização, tudo é mais simples. Depois é só acrescentar. Por escolha, eu sempre opto começar por ela. É muito maluco quando preparo as duas no ensaio. O que eu faço para me organizar, é ir anotando. É curioso, porque as duas estão passando por crises, uma está deprimida e para a outra, a vida deu um nó. E eu começo a perceber que enquanto eu me arrumo, alguma coisa dentro de mim já muda. O clima de figurino, maquiador, me ajuda a entrar no personagem. E fiz uma trilha interna, com o que acho que cada uma vestiria, leria, com estilos de vida e gostos escolhidos. Achei mais fácil para definir.
A Estela veio de um resgate do personagem da novela Mutantes - Caminhos do Coração. Ela era uma juíza que participava de um julgamento mutante. Pesquisei sobre leis, comportamento das pessoas em um tribunal, como é a maneira de falar. Assisti o filme Dois Homens e Uma Sentença, para me ajudar. Já para a Cristina, passei um dia dentro de uma escola. No Colégio de Aplicação da UFRJ, no Rio de Janeiro. A diretora e a equipe do departamento de matemática me deram todo o apoio para entender sobre aulas, reuniões, provas. Foi bem interessante.
Hoje o artista precisa ter flexibilidade. Já estou na emissora há três anos, e considero ter feitos papéis importantes. Em Cidadão Brasileiro, de Lauro César Muniz, interpretei a Manuela, que era um mulher livre, que conhecia o mundo e lutava pelos direitos humanos. E que também discutia um assunto polêmico, a eutanásia. Acho bacana quando a arte discute problemas da sociedade. E teve um momento na Globo, que fiquei apenas treinando elenco, e eu ia ter que esperar um tempo para ser reposicionada em novelas.
A Globo é uma casa pela qual tenho profundo respeito e carinho, mas tive que procurar novas janelas. É apenas uma questão geográfica. O trabalho de artista é assim, onde tiver trabalho, está ótimo. E quando entrei na Record acompanhei a repaginada da emissora. Eles arriscaram muito e eu decidi crescer aqui.
Terra